segunda-feira, 12 de novembro de 2012

JUSTIÇA EM PLATÃO




                    Platão, o mais célebres dos discípulos de Sócrates, nasceu no seio de uma das mais tradicionais famílias da aristocracia política de Atenas. Ao completar 20 anos, conheceu seu mentor, que mudaria para sempre o rumo da sua vida. “Platão era de família aristocrática, o que torna notável o fato de ele acreditar que os governantes não deveriam ser escolhidos por sua origem, e sim pela inteligência e força de caráter”. Com certeza o fim trágico de seu mestre, que foi levado a julgamento e sentenciado a morte por oportunismo dos políticos atenienses, convencera Platão a considerar com muita seriedade as qualidades necessárias a um bom líder.

Em data imprecisa, Platão escreveu A República, a primeira concepção de uma sociedade perfeita abordando tema como educação, política, ética, justiça, etc... E essa última será o tema central dos próximos comentários.

A justiça escreve Platão em "A República", é a virtude do cidadão e do filósofo que tem predominância sobre as outras (sabedoria, coragem e temperança). É a justiça que ordena as virtudes que regem cada uma das três partes (ou potências) da alma humana, a racional (possibilita o conhecimento das ideias), a irrascibilidade (impulsos e afetos) e a concupiscente (necessidades mais elementares). A razão seria governada pela sabedoria ou prudência (Sophia ou phrónesis), a irrascível pela coragem (andreia). Tanto a irrascibilidade e a concupisciência deveriam submeter-se à razão, por meio da temperança ou moderação (sophrosyne).

As virtudes, para Platão, dependem de aperfeiçoamento constante por parte dos humanos, com a predominância – é claro, da alma racional sobre as tendências irascíveis e concupiscíveis. Existe harmonia (armonía) ao se dominar os instintos ferozes, o descontrole sexual e a fúria dos sentimentos, permitindo que a alma frua dos prazeres espirituais e intelectuais: “O vício, ao contrário da virtude, está onde reina o caos entre as partes da alma”. De fato, onde predomina o levante das partes inferiores com relação à alma racional, aí está implantado o reino do desgoverno, isso porque ora manda o peito, e suas ordens e mandamentos são torrentes incontroláveis (ódio, rancor, inveja, ganância...), ora manda a paixão ligada ao baixo ventre (sexualidade, gula...).

Justiça para Platão é manter essa ordem original, ou as formas de governo (cinco, em "A República") degenerariam. Para ele, a única forma de governo legítima e justa seria o governo dos sábios, que poderia ter a forma de monarquia. As demais seriam formas degeneradas da pura, nas quais não se efetivaria justiça. Com os guerreiros no poder, haveria a teocracia, o governo que preza honrarias. Caso os ricos ficassem no comando, seria uma oligarquia, que dividiria os cidadãos entre os mais abastados e os pobres. A oligarquia provocaria maior acumulação de bens para os ricos, desequilibrando e dividindo a cidade em duas, abrindo caminho para a democracia (a desordem). Com a desordem da democracia, um único homem tiraria proveito da situação para sagrar-se no poder, inaugurando a tirania, a forma que mais se opõe à justiça.

Assim, em Platão não encontramos uma definição fechada de justiça. Ele procura trabalhar o conceito de justiça envolvendo todo o comportamento do ser humano, portanto podemos dizer que o a definição de justiça em Platão assume um caráter antropológico. Ele analisa como seria o comportamento do homem justo e do homem injusto para se chegar a descrever suas virtudes, e a tipologia das almas, a fim de determinar uma postura ética que direciona o homem para a conquista da sua felicidade dentro de suas aptidões constituindo por fim um estado justo e perfeito.

Platão vê a estrutura do Estado justo dividida em três classes, compatíveis com a espécie de alma que possuem. Estas se dividem em: concupiscível, sensível, encontrada nas pessoas cujo dom é dedicar-se à produção; irascível, emotiva, contida na classe guerreira, responsável por defender a Polis; e, finalmente, racional, cujos portadores devem encarregar-se do governo da cidade. Segundo o célebre filósofo, o  Estado só será justo quando cada alma, ou seja, cada cidadão, cumpra seu papel dentro da cidade, sempre tendo em mente a função proporcionada por sua alma, sem que cada classe tente agir por conta própria. As três classes devem agir em favor do ideal comum, que é o bem-estar e o desenvolvimento da Polis.

O papel do governante, portador da alma racional, é destacado, pois ele precisa guiar a classe dos produtores, para que esta seja temperante, e a classe dos guerreiros, para que estes estejam sempre fortes. Isso remete também no ideal político de Platão: a ética e a política são inseparáveis, isto é, o governo deve sempre procurar atender às condições já citadas, caso contrário, não poderá ser chamado de justo.

 

 




 

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