Em data imprecisa, Platão escreveu A República, a primeira concepção de uma
sociedade perfeita abordando tema como educação, política, ética, justiça,
etc... E essa última será o tema central dos próximos comentários.
A justiça escreve Platão em "A
República", é a virtude do cidadão e do filósofo que tem predominância
sobre as outras (sabedoria, coragem e temperança). É a justiça que ordena as
virtudes que regem cada uma das três partes (ou potências) da alma humana, a
racional (possibilita o conhecimento das ideias), a irrascibilidade (impulsos e
afetos) e a concupiscente (necessidades mais elementares). A razão seria
governada pela sabedoria ou prudência (Sophia ou phrónesis), a
irrascível pela coragem (andreia). Tanto a irrascibilidade e a
concupisciência deveriam submeter-se à razão, por meio da temperança ou
moderação (sophrosyne).
As virtudes, para Platão, dependem de
aperfeiçoamento constante por parte dos humanos, com a predominância – é claro,
da alma racional sobre as tendências irascíveis e concupiscíveis. Existe
harmonia (armonía) ao se dominar os instintos ferozes, o descontrole
sexual e a fúria dos sentimentos, permitindo que a alma frua dos prazeres
espirituais e intelectuais: “O vício, ao contrário da virtude, está onde reina
o caos entre as partes da alma”. De fato, onde predomina o levante das partes
inferiores com relação à alma racional, aí está implantado o reino do
desgoverno, isso porque ora manda o peito, e suas ordens e mandamentos são
torrentes incontroláveis (ódio, rancor, inveja, ganância...), ora manda a
paixão ligada ao baixo ventre (sexualidade, gula...).
Justiça para Platão é manter essa ordem original,
ou as formas de governo (cinco, em "A República") degenerariam. Para
ele, a única forma de governo legítima e justa seria o governo dos sábios, que
poderia ter a forma de monarquia. As demais seriam formas degeneradas da pura,
nas quais não se efetivaria justiça. Com os guerreiros no poder, haveria a
teocracia, o governo que preza honrarias. Caso os ricos ficassem no comando,
seria uma oligarquia, que dividiria os cidadãos entre os mais abastados e os
pobres. A oligarquia provocaria maior acumulação de bens para os ricos,
desequilibrando e dividindo a cidade em duas, abrindo caminho para a democracia
(a desordem). Com a desordem da democracia, um único homem tiraria proveito da
situação para sagrar-se no poder, inaugurando a tirania, a forma que mais se
opõe à justiça.
Assim, em
Platão não encontramos uma definição fechada de justiça. Ele procura trabalhar
o conceito de justiça envolvendo todo o comportamento do ser humano, portanto
podemos dizer que o a definição de justiça em Platão assume um caráter
antropológico. Ele analisa como seria o comportamento do homem justo e do homem
injusto para se chegar a descrever suas virtudes, e a tipologia das almas, a
fim de determinar uma postura ética que direciona o homem para a conquista da sua
felicidade dentro de suas aptidões constituindo por fim um estado justo e
perfeito.
Platão
vê a estrutura do Estado justo dividida em três classes, compatíveis com a
espécie de alma que possuem. Estas se dividem em: concupiscível, sensível,
encontrada nas pessoas cujo dom é dedicar-se à produção; irascível, emotiva,
contida na classe guerreira, responsável por defender a Polis; e, finalmente,
racional, cujos portadores devem encarregar-se do governo da cidade. Segundo o
célebre filósofo, o Estado só será justo
quando cada alma, ou seja, cada cidadão, cumpra seu papel dentro da cidade,
sempre tendo em mente a função proporcionada por sua alma, sem que cada classe
tente agir por conta própria. As três classes devem agir em favor do ideal
comum, que é o bem-estar e o desenvolvimento da Polis.
O
papel do governante, portador da alma racional, é destacado, pois ele precisa
guiar a classe dos produtores, para que esta seja temperante, e a classe dos
guerreiros, para que estes estejam sempre fortes. Isso remete também no ideal
político de Platão: a ética e a política são inseparáveis, isto é, o governo
deve sempre procurar atender às condições já citadas, caso contrário, não
poderá ser chamado de justo.
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